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sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009


ATELIER

Comecei a dar-lhe forma pelas pernas, mas isso o agitava além disto o obrigava a ser mais forte do que era. Comecei outra vez partindo da cabeça, uma linda cabeça com o cabelo eriçado, quando cheguei ao peito deu um grito de alegria irreprimível e voltou a se agitar, agora perigosamente.

As paredes da casa, tentando devolver a força de água azul, convergiam sobre ele. Me detive para fumar um cigarro. É um corpo muito belo, com a ligação às mãos perfeitamente assegurada. Os olhos tem algo de mediterrâneo, mas o cabelo é compacto, como nas Raças fortes. Preparo o outro corpo, mais extenso e mais ágil. A água verde ilumina toda a sala. Com um som agudo de campainha de prata se extingue lentamente o antigo anticorpo. Compreendo sua súplica, seu feroz desespero. É tudo o que todavia resta das idades sombrias que nos viram nascer, da época em que a força desgarrava a força só pelo gosto de desgarrar. Apago a luz e me estendo. Os dois corpos gerados dançam fazendo a roda, saem para o dia da terra, se internam no bosque. Seus traços, azul e verde profundos, são visíveis durante muito tempo, na brancura dos terraços, na montanha, nas extensões ilimitadas do campo, e sempre que me volto para o lado da luz.

MÁRIO CESARINY Portugal-1923 De “Pena capital”

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