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sábado, 7 de fevereiro de 2009

Leia no Indio Gris Nº 406 (Revista de Psicoanálise e Poesia do Grupo Cero)


"Assim falou Zaratustrita em 1979
POESIA, PSICOANÁLISE, LOUCURA
I
Se a realidade é a metáfora de todo o possível, as ciências serão o possível de ser determinado. Para que uma ciência se preze disto, deve ter seu objeto próprio. E seu objeto próprio não pode ser um objeto real, senão só provir de um objeto real, mediante uma transformação que da coisa faça símbolo, cujo procedimento chamamos: trabalho teórico.
A operação de descentramento que permite transformar a cegueira da ideologia em clareza simbólica não pode, mesmo que tente terminar com a ideologia. Pode isso sim, interpretá-la, retificá-la e até transformá-la, mas não pode terminar com ela, porque ela é a própria vida do sujeito. E a própria vida dos sujeitos se desenvolve no campo da carne, campo infinito e mutável, já que quando determinamos algo no campo do corpo não é para precisar sua morte senão, somente, sua transformação.
E é assim como, um espaço de tempo depois da descoberta e como do homem se trata, falamos do que falamos, voltaremos a sentir ciúmes, inveja, egoísmo ou qualquer outra bobagem, que são esses sentimentos chamados humanos, e em nossa própria vida e, no entanto, desconhecendo não só a estrutura que torna possível em cada sentimento uma verdade, senão também desconhecendo os mecanismos dos quais esta estrutura se vale para realizar o trabalho de transformação.
A isto denominamos trabalho inconsciente, cujo único destino é transformar o desejo inconsciente em verdade para possibilitar sua expressão.
E aí onde o sintoma impera como verdade e como verdade impera a palavra, os atos falhos, o chiste, os sonhos, a ciência, a loucura, a poesia, ali é onde se inicia agora um novo trabalho, que será o trabalho da psicoanálise (não já do inconsciente) que, desde os efeitos últimos daquele outro trabalho, construirá agora teoricamente a estrutura determinante destes efeitos.
O homem não tem do inconsciente senão seus efeitos, já que seu inconsciente não está nele, senão na palavra de outro. Palavra que não leva embaixo de si sua imagem iconograficamente representada, senão que trás debaixo outra palavra, que tampouco sabe nada dela, senão na reunião com outras palavras.
Cadeia significante, onde o sujeito é, não quem recorre a cadeia, senão quem com sua própria vida como sujeito, a funda. E sei que nunca saberei o significado das palavras que pronunciei se não for capaz, se não me atrever a pronunciar outra palavra e outra e mais outra, porque como humano devo saber que, para o humano, não há último sentido.
Até a próxima.
Índio Gris"
http://www.indiogris.com/
(quadro pintado por Mára Bellini, "Palavras que agúam")

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